Blog sobre cinema e o universo cinematográfico, principalmente o cinema europeu, asiático e independente, optando por abordar os filmes que não fazem parte do circuito conhecido como comercial.



domingo, 4 de abril de 2010

Control (Control) - 2007



“A existência... Bem... O que importa? Eu existo da melhor forma possível. O passado, agora faz parte do meu futuro. O presente está fora de controle.”

Incio do filme, narração em off de Ian Curtis



Com relação a capa ou pôster deste filme, eu vi várias versões, todas com o ator que interpreta o Ian Curtis em destaque, as vezes em pé, as vezes sentado ou no palco, com a tipografia sem serifa em várias cores, branco, vermelho e rosa. Essa capa que estou colocando no blog é a que eu mais gosto, como é uma cine-biografia apresenta em destaque o protagonista, e a tipografia em rosa deu um destaque maior ao nome, mesmo porque o filme é monocromático, achei que ficou bom essa coisa de utilizar esse elemento com cor na capa.

Trilha sonora muito bem selecionada, composta pelas bandas, Buzzcock, David Bowie e Iggy Pop que influenciaram o personagem retratado, o vocalista Ian Curtis, da Banda Joy Division, que também está presente na trilha sonora, obviamente que vai agradar quem gosta do estilo, o que por se tratar de uma cine-biografia de um integrante de uma banda do estilo, atrai pessoas que gostem desse tipo de música.

Não possui crédito inicial, mas possui no final, fundo preto, letras brancas sem serifa, exploram um efeito em que a tipografia pisca de maneira disforme, acredito que na intenção de simular o efeito do estroboscópio, aparelho muito utilizado para efeitos de iluminação em show’s e boates.

Com relação as atuações, posso dizer que achei muito boas, a começar pelo estreante Sam Riley, que interpreta Ian Curtis, que além de desempenhar bem o seu papel é realmente parecido com o real Ian Curtis e que também é músico. Samantha Morton faz uma participação modesta no filme como a esposa do cantor. Toby Kebbell, que faz o papel do produtor da banda, e que eu particularmente gosto das interpretações dele, pra quem não sabe quem é, é o personagem Johnny Quid do Rock’n’Rolla, ele incorpora bem o tipo doidão. E por fim, Alexandra Maria Lara que interpreta a amante de Ian, Annik Honoré, que eu não sei se ela é má atriz ou se é como deveria ser a personagem mesmo, meio apática, sem sal, até bonita a moça, mas bem sem graça, até mesmo porque o filme é inspirado no livro da esposa de Ian, o que pode ter influenciado nesta caracterização.

Bem, a história é simples, acho que vai agradar mesmo quem gosta da banda ou quem gosta de cine-biografias e histórias reais.

O filme acompanha os últimos anos de Ian Curtis (Sam Riley), vocalista da banda Joy Division, que depois da morte do mesmo, os integrantes restantes iriam formar a banda New Order. Mostra o seu casamento prematuro, e os conflitos ocasionados por um triangulo de relações entre Ian, sua esposa Debbie Curtis (Samantha Morton) e Annik Honoré (Alexandra Maria Lara), uma jornalista ocasional que Ian conhece em um show e passa a ter um caso com ela. Mostra um Ian Curtis frágil e imaturo, ao mesmo tempo que quer continuar casado, quer continuar com a amante, e não consegue se resolver com nenhuma delas, criando para si mesmo uma situação de conturbação. Tem até uma cena que me chama atenção, que mostra o personagem como uma criança ao ser repreendido pela mãe, na cena Ian chega em casa e sua esposa, após descobrir que ele possivelmente está tendo um caso, começa a lhe questionar quem era a tal Annik e a quanto tempo ele está tendo um caso com ela, e Ian simplesmente abaixa a cabeça e não responde nada, ficando completamente silencioso, o que obviamente faz com que sua esposa se sinta incomodada e ignorada, então ela vai ficando cada vez mais enérgica e querendo saber porque ele a está ignorando e não responde suas perguntas e ai ela grita com ele, mas o comportamento de Ian é tão infantil que a cada berro ele recua um pouco e vai abaixando a cabeça sem responder nada, exatamente como uma criança quando a mãe o xinga por alguma desobediência.

Com certeza, coisas como está podem desagradar os fãs que construíram uma imagem de Ian Curtis através de leituras em revistas e fanzines por aí. Eu por exemplo tinha uma idéia bem diferente dele do que é mostrado no filme, imaginava um homem totalmente depressivo, maluco, doidão, beberrão e junker, mas o filme não tem nada disso, a única droga que ele usa são os remédios para epilepsia e não me pareceu tão depressivo como o pintam, apenas um cara introspectivo. Não mostra também uma coisa que normalmente se fala muito, a sua obsessão pelo nazismo, para quem não sabe o nome Joy Division, se refere a um bordel alemão freqüentado pelos nazistas nas suas horas livres. Então isso pode desagradar um pouco.

Vemos também a descoberta da epilepsia e como isso contribuiu para sua conturbação, o medo de não conseguir controlar a doença, de piorar, os remédios que ele tinha que tomar e que não eram poucos e tinham vários efeitos colaterais indesejáveis.

O filme também apresenta a ascensão da banda, e os ataques de Ian no palco, o que acabou fazendo com que ele desenvolvesse a sua característica dança, como se estivesse tendo um ataque, o que o ator soube fazer muito bem, a suas crises de pânico com relação a multidão, o que acabou por favorecer mais ainda o seu estado de descontrole e conturbação mental.

É interessante perceber que as letras das músicas normalmente eram inspiradas pelos momentos de sua vida, e o roteirista soube explorar bem o recurso de usar as letras da banda como artifício narrativo, e percebemos que ele mesmo em suas letras já apresentava indícios de estar perdendo o controle, como na musica “Control”, que provavelmente dá nome ao filme, e em outras que ele passa essa sensação de não estar lidando bem com a realidade e com os acontecimentos de sua vida. A própria música do Joy Division (para quem já ouviu talvez consiga compreender o que eu vou dizer), já é depressiva, eles realmente conseguiram passar essa sensação na música.

Bom, o que realmente chama atenção no filme e faz valer muito apena assistir é a fotografia, o filme é todo em preto e branco, assim como os clipes e fotos da banda, o que não poderia ser diferente, uma vez que o diretor de fotografia, que também é o diretor Anton Corbijn, especializado no cenário musical, é o responsável pelas fotos mais famosas do Joy Division. Em sua estréia como diretor do longa, consegue criar cenas e enquadramentos muito bonitos, como a cena que Ian esta dirigindo um carro na rodovia e a luz do sol bate em seu rosto, criando um contraste de extrema claridade e o rosto fica como uma silhueta, sem contar alguns planos abertos em que mostra Ian e Debbie no centro da rua, muito bem feito e de bom gosto. O diretor já dirigiu videoclipes de bandas como Depeche Mode, U2, Nirvana e Johnny Cash.

No geral, acho que vale a pena conferir, tem muito mais qualidades do que defeitos, que talvez estejam mais na interpretação e aceitação da história. Boas atuações, excelente fotografia, boa trilha sonora e uma história real que nos faz pensar um pouco como a vida é, muitas vezes cheias de reviravoltas. Sem contar que a banda Joy Division foi referencia para bandas novas como Interpol, She Wants Revenge, The Killers e muitas outras.

Ian Curtis morreu em 18 de Maio de 1980 com 23 anos.

O baterista Stephen Morris contou aos jornalistas no Festival de Cannes como se sentiu quando soube que Curtis se enforcara:

“Acho que foi um choque, mas o que eu realmente senti foi muita raiva. Raiva por ele ter sido tão estúpido.”

“Quando uma pessoa comete suicídio, deixa um monte de perguntas sem respostas para as pessoas que sobram, e as fere muito mais.” Completou.

E como não poderia faltar minhas indicações finais, aconselho principalmente para quem curte a história da banda, quem gosta de música em geral, críticos e todas as pessoas que trabalham diretamente com música, seja como crítico, jornalista ou membro de uma banda. Primeiro por referencia e segundo por se tratar de um cantor de uma banda que fez história e influenciou e influencia até hoje muitas bandas, mas recomendo também para todas as pessoas que gostam da sétima arte, de uma pipoquinha com refri gelado e um filme agradável de se ver.


Ficha Técnica:

Título no Brasil: Controle-A História de Ian Curtis / Título Original: Control
País de Origem: EUA/Inglaterra / Gênero: Drama,Cine-Biografia
Tempo de Duração:121 min / Ano de Lançamento:2007
Estúdio/Distrib.: The Weinstein Company / Daylight Filmes
Direção: Anton Corbijn


Elenco:
Sam Riley (Ian Curtis) / Samantha Morton (Deborah Curtis) Craig Parkinson (Tony Wilson)
Joe Anderson (Peter Hook) / Nicola Harrison (Corrine Lewis)
Toby Kebbell (Rob Gretton) / Alexandra Maria Lara (Annik Honoré)
Matthew McNulty (Nick Jackson)/ Ben Naylor (Martin Hannett)
James Anthony Pearson (Bernard Sumner) / Tim Plester (Earnest Richards)
Robert Shelly (Twinny) / Andrew Sheridan (Terry Mason)
Harry Treadaway (Stephen Morris) / Nigel Harris


Sinopse:

Drama biográfico baseado no livro escrito por Deborah Curtis sobre o marido Ian Curtis (Riley), o enigmático cantor e líder da banda britânica Joy Division. Além dos detalhes pessoais e profissionais, o filme descreve os romances e a forte personalidade do jovem, que o levou a cometer suicídio aos 23 anos de idade.

Um comentário:

LiliAna disse...

O filme parece ótimo, pena que não consigo em lugar nenhum, para baixar ou alugar.