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quarta-feira, 24 de março de 2010

Entre Irmãos (Brothers) - 2009




Vou fazer uma coisa interessante que normalmente não vejo nos outros blogs, uma vez que tenho formação acadêmica em Design Gráfico, irei, sempre que possível, comentar as capas dos DVDs, posters e créditos do filme. No filme Entre Irmãos o crédito inicial é padrão e bem comum como a maioria dos filmes, com tipografias brancas sem serifas, sobrepostas às filmagens. Com relação a capa eu gostei muito, pois gosto dessa coisa de usar o fundo branco, é bonito e chama a atenção para os demais elementos, e a idéia de colocar os três como se estivessem em fila, mostrando a relação entre os personagens principais. Só que mais próximo ao centro temos esse corte, que define também a divisão entre as personalidades dos dois irmãos e o interesse amoroso velado de um irmão com a esposa do outro, então a construção conceitual da capa tem o seu lugar.

Com relação as filmagens, não há nada de especial, mas um pouco melhor que o Triagem e O Mensageiro, com cortes mais dinâmicos e ângulos de filmagens mais explorados, mas nada surpreendente.

A trilha sonora deste eu já gostei, começa com um guitarra acústica, bem suave, com uma harmonia agradável, que acompanha os personagens, com músicas e composições bem escolhidas.

As atuações são muito boas, os atores cumprem os seus papéis. Tobey Maguire, que eu particularmente não gosto muito, até conseguiu segurar bem o papel, tendo uma consistência no aspecto transtornado que é exigido do personagem do meio do filme em diante. Jake Gyllenhall, que na minha opinião é um ótimo ator, não teve muita dificuldade já que é uma atuação que não exige tanto. Da mesma forma Natalie Portman executa bem o seu papel. Li em algum blog uma crítica com relação ao desempenho dela, considerando sua atuação como insossa, o que eu, particularmente, discordei, pois não é a atuação dela que é ruim, é porque o personagem exige isso e se ela cumpriu e conseguiu passar essa sensação, mérito total para ela.

Bom, o meu interesse em criar esse blog, não é somente contar a história ou falar de técnica, mesmo porque já existem vários que fazem isso, mas sim de comentar mais profundamente, observando o que o roteiro tem para apresentar em relação aos assuntos recorrentes do homem, sejam eles políticos, filosóficos, científicos e etc., dentro da minha capacidade e da minha opinião sobre os assuntos e desde que o filme apresente algo de válido a ser comentado.

Então, com relação a esse filme, não vou contar muito da história para mostrar a minha opinião, mas vou optar por colocar a sinopse neste caso. O Filme se inicia apresentando a normalidade dos personagens, cada um em suas vidas e individualidades, aproveitando para nos apresentar a personalidade de cada um. Grace Cahill (Natalie Portman) esposa de um soldado de guerra Sam Cahill (Tobey Maguire), é uma mulher cujos pais morreram, dona de casa e mãe de duas filhas, introspectiva e muito comedida em suas decisões e opiniões. Já o seu esposo é um homem mais decidido, com uma personalidade mais forte, mas também calmo, sem muitos problemas de personalidade, sendo o alicerce tanto da família constituída com essa mulher como da sua família de origem. O seu irmão Tommy Cahill (Jake Gyllenhal) já nos é apresentado no início do filme sendo liberado da prisão por assalto, é o garoto problema da família, propenso a desafiar e a expressar suas opiniões principalmente em se tratando de seu pai. Mas a despeito desse clima hostil , os irmãos são afetuosos um com o outro. Definido assim os três personagens principais da trama, já podemos perceber o clima de tensão que pode advir de três personalidades tão dispares.

Para quem não sabe, Entre Irmãos é uma refilmagem de um filme dinamarquês, que eu não assisti e também não sei se chegou a ser lançado no Brasil. Uma coisa que me chamou atenção no início do filme, foi alguns pequenos detalhes no roteiro (escrito par David Benioff, baseado em roteiro de Susanne Bier e Anders Thomas Jensen), que nos levam a algumas reflexões. Como por exemplo o fato de Sam fazer parte de uma família de tradição militar, seu pai é um militar, o que é questionado por Tommy e que um pouco mais a frente vamos vê-lo jogar na cara do pai, ser ele o responsável por Sam ter seguido a carreira militar. Ora, sendo os USA um país que sempre prezou pela política de incentivar a todos a servirem e protegerem o estilo de vida norte-americano, nos deixa implícito que nem sempre os jovens seguem a carreira militar por vontade própria, mas sim para cumprir a sua obrigação e influência junto à família, até mesmo para não se sentirem deslocados no contexto social/familiar. O que nesse caso fica claro nas opiniões do pai, que o considera melhor e tem maior ligação com Sam do que com Tommy. Também vemos em outra cena, uma visão que pode não ser muito dos norte-americanos em geral, mas o roteiro pode estar apontando para uma situação de desinformação, tanto do americano comum, mas também como ele continua levando a informação errada para a sua família, o que pode ser visto na cena em que vemos Tommy discutindo sobre seu irmão voltar para o campo de batalha, no caso aqui, para variar, o Afeganistão, e uma de suas sobrinhas lhe informa que eles vão para a guerra para atirar nos caras maus, e Tommy pergunta para ela, “Quem são os caras maus?”. E ela responde “são os homens de barba”, ou seja, uma pequena crítica que eu chamo de “Islamicofobia”, crescente desde o 11 de setembro, basta ter barba e cara de islâmico para serem considerados os “caras maus”.

Aqui, irei fazer uma comparação, muito embora não goste muito desse tipo de coisa, mas é inevitável. Não gostei e achei muito chato o filme Guerra ao Terror. São duas horas cansativas sem muita coisa a ser realmente assimilada nesse tempo todo, apesar de eu achar que estou até preparado para desarmar bombas, de tanto tempo que eu fiquei vendo no Guerra ao Terror. E em todo lugar eu ouvi pessoas falando bem sobre o filme, dizendo que acharam bom pois mostrou o vício da guerra, coisa até mesmo explícita no roteiro já que ele começa falando que “A Guerra é uma droga”, e leva mais de duas horas para confirmar isso, o que não tem nada de original, porque no Entre Irmãos e em vários outros filmes já existe essas argumentações. Na cena em que o personagem de Sam diz após saber que ele estava retornando para o Afeganistão, “Estranho... quase me sinto como se estivesse em casa”, e no início na cena da discussão na mesa do jantar Tommy fala com ele “Você adora aquilo lá”, e mais uma vez e similar ao que acontece no Guerra ao Terror, vemos uma cena em que o personagem de Sam se sente deslocado ao voltar para casa, tanto pelo trauma com talvez por esse mesmo motivo, de já estar viciado nessa coisa de ir para a guerra, de mudar a sua referência e por estar sempre retornando ao campo de batalha.

Dai para frente se desenvolve praticamente um triângulo de relações. Sam havia sido capturado e sofreu um trauma por ter sido obrigado a matar o seu amigo, outro soldado que foi capturado com ele no Afeganistão. Mais uma vez o roteiro nos apresenta algo para se refletir, a guerra é psicológica, com ferimentos que muitas vezes não são físicos. Não são partes de corpos quebrados, perfurados ou explodidos, mas sim do “espírito”, como no caso do personagem de Colin Farrel (Triagem). Sam é um homem durão e certo de si, mas diante das técnicas de tortura psicológica desmoronou, até mesmo por sua tendência de esconder-se por trás de uma suposta fortaleza pessoal, passando a se martirizar e a sofrer em silêncio o terror das lembranças do Afeganistão, ficando cada vez mais descontrolado, transformando em um homem paranóico e violento a ponto de deixar sua filha com medo dele, ao contrário do início da trama em que era um homem pacífico e calmo.

Neste ínterim o filme apresenta um romance, ou melhor, um interesse velado de Tommy para com a esposa de seu irmão. Interesse esse que já existia desde a adolescência, o que é cercado de clichês, mas a vida é cheia de clichês mesmo, não sei porque o povo tem tanta implicância com os clichês, então vemos a velha estórinha de Tommy se aproximando de suas sobrinhas, sendo bom, ajudando a cunhada, até dar o golpe final e conseguir um beijo em uma noite próximo a lareira.

Vemos então a desconstrução do que era no início, o irmão bonzinho e exemplar se tornando um problema crescente, e o problemático se tornando melhor, e a mulher sem mudanças é o centro do triangulo, por isso disse que é da personagem a apatia, pois ela está lá para que os dois irmãos que dão até nome ao título possam ser a trama central. Então fica aquela questão que novamente, de maneira sutil, o roteiro nos apresenta nas palavras do desafiador Tommy, “Para que?”, ou seja, se formos refletir, principalmente nós brasileiros, para quer ir para uma guerra defender com a vida o país? Um país que muitas vezes tem um governo opressor e explorador. Para privilegiar os interesses de alguns poucos homens inescrupulosos. Para manter a economia e o interesse de multinacionais e empresários milionários que não estão nem ai para a maioria das pessoas, faço minhas as palavras de Tommy “Para que?

Finalizando, já que falei muito, eu sou mil vezes mais esse filme do que o Guerra ao Terror e muitos outros por ai que se valem de pirotecnias, histórias mirabolantes de conspirações e cenas bem filmadas de homens em campos de batalha sendo retalhados, pois, mesmo não sendo um filme maravilhoso, possui várias situações paralelas e para o observador atento aproveita para inserir questões de reflexão como as que eu citei, fazendo uso do tempo que tem e não se delongando demasiadamente para expressar poucos argumentos.

Ficha Técnica

Título Original: Brothers / País de Origem: EUA / Gênero: Drama / Ano de Lançamento: 2009
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes / Direção: Jim Sheridan / Nota no IMDB: 7.6

Elenco

Natalie Portman ... Grace Cahill / Carey Mulligan ... Cassie Willis / Jake Gyllenhaal ... Tommy Cahill / Clifton Collins Jr. ... Major Cavazos / Tobey Maguire ... Sam Cahill / Mare Winningham ... Elsie / Bailee Madison ... Isabelle / Jenny Wade ... Tina / Patrick Flueger ... Joe Willis / Jason E. Hill ... Captain Sanderson / Luce Rains ... The Nose / Omid Abtahi ... Yusef / Rebecca Grant ... Nurse / Taylor Geare ... Maggie Cahill / Navid Negahban ... Murad / Arron Shiver ... A.J.

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