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quarta-feira, 17 de março de 2010

Testemunhas de Uma Guerra (Triage) - 2009



Aproveitando o embalo do Oscar, quando o maior vencedor da vez foi o filme Guerra ao Terror de Kathryn Bigelow, que, na minha opinião particular, não tem nada de mais, além de ser um filme fraco. Irei comentar três filmes sobre guerra, que não são espetaculares, mas tem algo de interessante a ser comentado a valem a pena serem assistidos.

Em primeiro lugar, não consigo entender porque se fazem tantos filmes de guerra por ano, sempre com o mesmo pano de fundo, geralmente o governo norte-americano está direta ou indiretamente envolvido ou é simplesmente uma guerra que, no final da história, é perpetrada pelo EUA com intuitos escusos por trás. Eu particularmente não tenho paciência com esses filmes. Recentemente resolveram mudar um pouco, mostrando os efeitos colaterais da guerra, mas já começou a ficar chato também, porque só esse ano devem ter saído uns 5 a 6 filmes com essa temática, por isso resolvi comentar esses três (Triagem, O Mensageiro e Entre Irmãos), pois, com certeza, o gênero guerra serão muito poucos que irei comentar.

Bem, vamos ao que interessa que é o filme em si. Em termos de filmagem o filme não possui nada de especial, não se diferencia de nenhum outro filme do gênero.

A atuação dos personagens é boa, Colin Farrel consegue passar a sensação de um homem aprisionado em suas próprias conturbações, Paz Veja, se mostra também uma boa atriz, lembrando até mesmo a Penelope Cruz, principalmente pelo sotaque, e por fim Christopher Lee, sempre competente, com o seu tipo sisudo e com seu jeito autoritário de falar.

A trilha sonora é boa, com algumas bandas da new wave, bem estilo Reino Unido e década de 80, já que o filme se passa no final dos anos 80. Não sei dizer se a trilha é a mais adequada ao tema, mas tem relação com o personagem e o local onde se passa a maior parte da história.

O filme começa com dois fotógrafos especialistas em guerra, Mark (Colin Farrel) e David (Jamie Sives), que estão trabalhando no devastado Curdistão, e nesse cenário o roteiro já nos apresenta algumas coisas interessantes a se destacar. Uma é apresentada na cena em que um médico curdo seleciona os pacientes com uma tira de papel colorido, vermelha (que não mostra exatamente o que é, mas provavelmente os casos graves), azul (casos em que não tem solução) e laranja (pacientes que irão sobreviver), e de maneira inteligente, roteirista e diretor apresentam o local onde é instalado o posto médico, que funciona em uma caverna, sem praticamente nenhum recurso. O médico parecendo mais com um açougueiro do que médico, com o jaleco todo sujo de sangue, o que deixa claro que sobreviver a guerra já é uma vitória. Mas ela é somente uma parte, outras batalhas ainda terão de serem vencidas, como a falta de recursos e de estrutura para salvar os feridos. Em resumo, poucos são os que irão sobreviver mesmo, nssa seqüencia vimos o médico atirando em alguns pacientes que foram colocados enfileirados no chão, filmado de maneira a parecer uma execução, o que depois em um dialogo entre o Mark e o médico, ficamos sabendo que na verdade era o golpe de misericórdia do médico para acabar com o sofrimento daqueles que não teriam como sobreviver mesmo, então já percebemos que a guerra afeta indiretamente outros.

Mark é um fotografo ambicioso, e que no decorrer do filme vamos percebendo que ele tinha até mesmo um gosto por registrar e estar próximo a toda morbidez provocada pela guerra. Já o seu melhor amigo David é exatamente o oposto, sem contar que David não estava mais interessado em fotografias de guerra, mesmo porque sua esposa está grávida, o que lhe faz pensar que estar sempre correndo risco de morrer não é o melhor para um futuro pai. É interessante notar que, um pouco mais a frente, em outra conversa entre Mark e o médico, o médico fala que David era um homem inteligente por suas decisões, e é desse conflito de personalidade, e só para destacar que o roteirista estava bem atento ao seu texto, que lá no meio do filme, a namorada de Mark, faz um comentário com a mulher de David, que pelas fotografias deles, da para se perceber a diferença das personalidades de cada, e isso é importante pois o filme explora exatamente os processos que envolvem o psicológico dos personagem. Então, dessa disparidade de personalidade surge o conflito que vai levar a toda a história do filme, porque Mark convence o seu amigo a ir atrás dos guerrilheiros para tentar fazer as melhores fotos, o que David não queria, e no caminho são atacados, fazendo com que David decida não mais prosseguir e retornar. Mark fala para ele que não tinha como fazer isso, porque teria que voltar a pé por 32 km, no deserto, mas David resolve arriscar.

Logo em seguida corta para Mark, sendo carregado em uma maca, e mostra o médico conversando com ele, e apresentando o quadro médico, e colocando a tira de papel laranja, depois já mostra Mark chegando em sua casa, na Irlanda, e já neste novo cenário nós vemos a degradação psicológica do personagem, e até mesmo é diagnosticado que as seqüelas que ele trouxe com ele (como o fato de estar mancando sempre) são efeitos do psiquismo sobre seu corpo. Vemos psicólogos tentando ajudá-lo, mas Mark cria um bloqueio dificultando o trabalho dos médicos, até que sua namorada Elena (Paz Veja) decide ligar para o seu avó Joaquín (Chritopher Lee) um psiquiatra especializado em ferimentos de guerra que já havia trabalhado na recuperação de criminosos de guerra na Guerra Civil Espanhola. Daí para frente vemos os acontecimentos em forma de flashback, a medida que o médico vai tratando do problema de Mark e descobrimos que ele volta com o seu amigo David, só que no caminho David pisa em uma mina e perde os dois pés, Mark até tenta carregá-lo mas quando chegam em um rio, Mark é obrigado a abandonar o seu amigo, pois se não afogariam os dois, e é por isso que Mark está tão angustiado.

Por fim o que realmente vale a pena destacar neste filme é a forma como o diretor apresenta todo o processo. Uma forma bem construída, que mostra o médico tratando incisivamente da doença de maneira visceral, sem tratá-lo como se fosse de vidro e que a qualquer momento pudesse quebrar, e sim mostrando para ele que as dificuldades e os problemas acontecem com todos, e que temos que aprender a conviver com eles, porque eles na verdade nunca vão embora. E o mais interessante, ao mesmo tempo que ele vai tratando Mark, fazendo com que ele coloque para fora tudo que se passou, faz isso de maneira a ele ir se resolvendo indiretamente com os outros personagens, com por exemplo na cena em que ele confessa que Mark estava morto na frente da esposa dele, o que ele só fez por intermédio do médico, pois antes ele não conseguia. Outra parte interessante é que o roteirista mostra a personalidade forte da esposa de David, que consegue reconhecer que a culpa não era dele, não fazendo um dramalhão barato como normalmente acontece na maioria dos filmes. Não é o melhor filmes do mundo, mas vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de psicologia e comportamento humano e também por não ser mais um filme a se prender na conspiração política e governamental dos homens-bomba da suposta Guerra Santa.



Ficha Técnica
Título Original: Triage / País de Origem: Irlanda/França/Espanha / Gênero: Drama
Tempo de Duração: 98 minutos / Ano de Lançamento: 2009
Estúdio/Distrib.: Parallel Film Productions / Direção: Danis Tanovic IMDb: 7.0

Elenco
Colin Farrell...Mark Walsh / Paz Vega...Elena Morales / Branko Djuric...Dr. Talzani
Nick Dunning...Dr. Hersbach / Myia Elliott...Stewardess / Gail Fitzpatrick...Lady Neighbour
Christopher Lee...Joaquín Morales / Ian McElhinney...Ivan / Kelly Reilly...Diane
Reece Ritchie...Shiite Boy / Jamie Sives...David / Juliet Stevenson...Amy / Eileen Walsh...Dr. Christopher

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