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quarta-feira, 17 de março de 2010

O Mensageiro (The Messenger) - 2009



Meu comentário inicia-se com as filmagens, pois normalmente em filmes do gênero, as filmagens são, por padrão, sem muita trucagem ou malabarismo, até mesmo porque não se aplicaria. Manter um mínimo de consistência na filmagem é o suficiente, e no caso de O Mensageiro é o que acontece.

A trilha sonora do filme não influi muito, em alguns momentos o personagem de Ben Foster, ouve Rock. E a bem da verdade, eu não entendo muito bem o que acontece na cabeça dos diretores, pois sempre optam por esse tipo de trilha em filmes desse gênero, e que pra mim, causa um ruído meio incomodo e considero não ter absolutamente nada a ver com o tema. Principalmente no caso desse filme que está mais voltado para os aspectos humanos decorrentes do pano de fundo que é a guerra. Mas a trilha de Rock acontece em poucos momentos, então não chega a incomodar muito.

As atuações são boas, Wood Harrelson competente como sempre, e a dupla Ben Foster e Samantha Morton estão bem em seus respectivos papéis, com mais destaque para o primeiro, pois Samantha está meio apática e ela consegue ser melhor, mas também não é nada que atrapalha a ponto de ser ruim.

Uma coisa que normalmente é recorrente em filmes de arte, europeus, independentes e alternativos é a temática dos conflitos humanos, sejam eles com qualquer pano de fundo. Uma vez que são produções de menor orçamento, não se dedicam a investir na produção de pirotecnias e efeitos, então se dedicam mais ao aspecto de contar a história, e que por esse mesmo motivo, optam por explorar as relações humanas e os conflitos inerentes destas. Esse será basicamente um tema que vai permear o blog, já que a proposta é explorar esse tipo de cinema.

A história do filme é simples, um soldado americano Will (Ben Foster) retorna para sua casa após ferir-se no Iraque, e para cumprir o tempo que ainda lhe resta de serviço (3 meses) é remanejado para a divisão de notificação aos familiares do falecimento de militares no front. Para instruí-lo enviam um soldado mais velho e mais experiente Tony (Woody Harrelson), que lhe auxilia e ensina como deve se proceder nas diferentes situações. No princípio, Will considera a tarefa fácil, mesmo porque o personagem nos é apresentado como um jovem durão e convicto de sua postura, e, é apartir daí que surge a grande jogada do filme. A medida que ele realiza as comunicações do falecimento aos familiares, ele começa a perceber que as situações são muito difíceis de lidar e, a muralha que ele provavelmente acreditava ser, começa a desmoronar. E por causa disso, ele apresenta dificuldade em cumprir a missão, que considera ter se tornado mais difícil ainda devido o esquema e método de abordagem utilizado por seu instrutor e parceiro, e é desse aspecto que surge uma coisa a ser extraída do roteiro. Na guerra normalmente nos atemos aos mortos e nos conflitos daqueles que estão no campo de batalha e nos soldados, mas o roteiro nos mostra que não é bem assim, que a guerra ultrapassa as suas fronteiras, atingindo os familiares dos soldados e, conseqüentemente a sociedade em geral. Seja através dos pais, filhos e esposas dos soldados mortos, que na maioria dos casos, não conseguem lidar com a perda. É dessa forma que o roteiro nos mostra uma outra perspectiva da dimensão conflituosa e dos efeitos colaterais que uma guerra possui, e que muitas vezes passa despercebido por nós, observadores comuns e alheios a essa perspectiva.

Como no filme Triagem, existe uma disparidade entre os dois personagens centrais. Will é mais sério e introvertido e Tony é extrovertido e piadista. O que a princípio se constitui em um conflito entre os dois, já que Will não parece ter muita paciência com o seu parceiro, mas com o tempo, a situação vai se transformando e os dois começam a desenvolver uma grande amizade, chegando ao ponto de se confidenciar alguns segredos, e é daí que surge o segundo elemento de interesse na história, que é como pessoas que não estão envolvidas diretamente no campo de batalha se afetam. Ou seja, a guerra é algo que poderia ser descrita como epidêmica, basta somente estar próximo dos acontecimentos e dos fatos para que ela apresente os seus sintomas. E devido os dois personagens estarem sempre lidando com os conflitos familiares e não poderem demonstrar suas fraquezas perante essas pessoas, que eles vão desenvolvendo os seus conflitos internos que vem à tona nos momentos de folga. E é por isso que assistimos a amizade entre Will e Tony ir se desenvolvendo, e apesar de ser uma amizade cheia de altos e baixos, os personagens vão se acertando, e nós espectadores vamos conhecendo um pouco mais os personagens e suas histórias individuais.

O Mensageiro não chega a ser um filme brilhante, mas é um filme indicado para quem quer ter uma visão sobre a outro lado da guerra e das suas conseqüências. Mas não é de forma alguma um filme para quem desejam ver tiros e histórias mirabolantes cheias de conspirações governamentais. Mais uma vez destaco o filme para estudantes de psicologia e comportamento humano. E também não aconselho a convidar a(o) namorada(o) para uma noite romântica assistindo esse filme, apesar deu ter visto com a minha namorada, mas tem opções melhores neste caso.



Ficha Técnica
Direção: Oren Moverman / Roteiro: Oren Moverman, Alessandro Camon / Gênero: Drama/Guerra/Romance / Origem: Estados Unidos / Duração: 105 minutos
Nota no IMDB: 7.7


Elenco
Ben Foster ... Staff Sergeant Will Montgomery / Jena Malone ... Kelly
Eamonn Walker ... Colonel Stuart Dorsett / Woody Harrelson ... Captain Tony Stone
Yaya DaCosta ... Monica / Washington Portia ... Mrs. Burrell
Lisa Joyce ... Emily / Steve Buscemi ... Dale Martin / Peter Francis James ... Dr. Grosso
Samantha Morton ... Olivia Pitterson / Paul Diomede ... Motorcycle Cop / Jahmir Duran-Abreau 
Matt Pitterson

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